Conto de fadas
Uma Dádiva de
Amor
Edméia Faria
Condenados e abolidos da vida da
criança por pais e educadores, durante muito tempo, sob a alegação de falsos e
selvagens, os contos de fadas são, segundo Bruno Betelhein, conceituado
psicanalista austríaco, uma dádiva de amor.
Enquanto divertem, ensina o
educador e terapeuta, essas histórias carregadas de símbolos esclarecem a
criança sobre si mesma e favorece o desenvolvimento da personalidade, uma vez
que lidam, de forma literária, com os problemas básicos da vida, especialmente
os inerentes à luta pela aquisição da maturidade.
A criança ainda não pensa
racionalmente. A sua realidade é a fantasia. Daí a necessidade de nutri-la,
para que não lhe falte a esperança, sem a qual não há forças para enfrentar as
adversidades da vida. Esta, na lição do grande mestre da psicanálise infantil,
a grande contribuição dos contos de fadas: oferecer o consolo e a esperança
para o futuro. Apesar do drama apresentado, apesar dos conflitos e de todas as
ansiedades vividas pela personagem, não há dúvida quanto ao final feliz. O
conto de fadas diz à criança que “embora
existam bruxas, nunca se esqueçam que também
existem boas fadas, muito mais poderosas.” Essa segurança imaginária
experimentada por tempo suficiente permite à criança desenvolver o sentimento
de confiança na vida. Sentimento este de que ela necessita para crer em si
mesma, para que aprenda resolver os problemas da vida através de suas próprias
e crescentes habilidades racionais.
Conferir novamente aos contos de
fadas folclóricos o papel central na vida da criança, que tiveram durante
séculos, é ajudá-la a encontrar significado na vida. É, portanto, uma dádiva de
amor.
Bibliografia
BETELHEIN, Bruno – A Psicanálise
dos Contos de Fadas – Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1986.